28o. CURSO INTERNACIONAL DE VERÃO DE BRASÍLIA – 2006
REGÊNCIA DE BANDA SINFÔNICA
Maestro Roberto Farias
SOBRE OS INSTRUMENTOS NÃO-TRANSPOSITORES
Ao longo de mais de três décadas, muito se tem feito no Brasil para desfazer certos equívocos com relação aos instrumentos TRANSPOSITORES e NÃO-TRANSPOSITORES. A falta de informação ou mesmo a dificuldade de acesso à literatura específica do assunto tem feito com que muitas pessoas envolvidas na atividade musical, sobretudo no âmbito das bandas de música, ainda cultivam velhos conceitos, que hoje (e há muito tempo) não tem a menor razão de ser.
A grande dúvida sempre reside entre os instrumentos graves de metal, como trombone de válvulas (trombone de pistos), eufônio (bombardino) e tubas em suas diversas afinações. No Brasil, por conta de uma tradição, adotou-se por um longo período a utilização desses instrumentos como transpositores e, conseqüentemente, em clave de sol – essa prática não é privilégio nosso, já que em alguns países do mundo, entre as bandas comunitárias, isso ainda hoje se constitui uma prática comum.
Convivemos com duas situações distintas: a primeira, no âmbito das bandas civis, igrejas e escolas, com a adoção da escrita desses instrumentos unicamente em clave de sol e como instrumentos TRANSPOSITORES–empregam a técnica de digitação adotada para o trompete; a segunda, mais restrita a algumas bandas militares, o emprego da clave de fá, porém ainda como instrumentos TRANSPOSITORES, seguindo a antiga escola francesa, atualmente (e há muito tempo) em desuso.
Para o segundo caso, note-se que o material divulgado pela FUNARTE, dentro do projeto Repertório de Ouro das Bandas de Música, segue esse princípio, limitando, nos dias de hoje, o acesso de uma nova geração de músicos, cuja orientação se vê atualizada e afinada com o pensamento universal sobre a matéria. Verifique-se que Villa-Lobos, em seus trabalhos dirigidos às bandas de música de sua época adotou esse sistema, enquanto, em obras compostas para grupos estrangeiros, como é o caso das obras encomendadas pela American Wind Symphony (Fantasia em três movimentos em forma de choros e Concerto Grosso), segue o conceito que prevalece no mundo inteiro (Não-Transpositores).
Esses instrumentos, independentemente da afinação (mi bemol, fá ou si bemol), devem ter a sua escrita em clave de fá e em som real – cada instrumento, de acordo com a sua afinação, terá uma digitação diferente, tomando-se por base a afinação do seu tubo principal (pistos ou válvulas não acionados), adotando-se o princípio da série harmônica. Os únicos instrumentos que terão a sua digitação coincidindo com a digitação do trompete, no que se refere às notas escritas, serão os afinados em dó, porém, diferindo no resultado daquilo que soam (o trompete em si bemol, uma segunda maior abaixo e a tuba e eufônio no som real).
- O instrumento em mi bemol terá como base a série harmônica de mi bemol, até o limite aceitável de doze parciais (em razão da afinação e potencial técnico), ou seja, fundamental mi bemol -1 (nota pedal) e seus harmônicos: mi bemol, si bemol, mi bemol, sol, si bemol, ré bemol, mi bemol, fá, sol, lá natural, si bemol;
- O instrumento em fá terá como base a série harmônica de fá, até o limite aceitável de doze parciais (em razão da afinação e potencial técnico), ou seja, fundamental fá 1 (nota pedal) e seus harmônicos: fá, dó, fá, lá, dó, mi bemol, fá, sol, lá, si natural, dó;
- O instrumento em si bemol terá como base a série harmônica de si bemol, até o limite aceitável de doze parciais (em razão da afinação e potencial técnico), ou seja, fundamental si bemol -1 nota pedal) e seus harmônicos: si bemol 1, fá 2, si bemol, ré, fá, lá bemol, si bemol, dó, ré, mi natural, fá, no caso do eufônio e uma oitava abaixo, no caso da tuba em si bemol, ou seja, fundamental si bemol -2 (nota pedal) e seus harmônicos: si bemol -1, fá 1, si bemol, ré. Fá, lá, si bemol, dó, ré, mi natural, fá;
- O instrumento em dó terá como base a série harmônica de dó, até o limite aceitável de doze parciais (em razão da afinação e potencial técnico), ou seja, fundamental dó 1 (nota pedal) e seus harmônicos: dó 2, sol, dó, mi, sol, si bemol, dó, ré, mi, fá sustenido, sol, no caso do eufônio em dó e uma oitava abaixo, no caso da tuba em dó, iniciando (nota pedal) pelo dó -1;
Todos esses instrumentos obedecerão a seguinte digitação para as suas sete posições iniciais (considerando o instrumento de três pistos):
1ª. Posição: 0 (pistos soltos); 2ª. Posição: 2; 3ª. Posição: 1; 4ª. Posição 1-2 ou 3; 5ª. Posição: 2-3; 6ª. Posição: 1-3; 7ª. Posição: 1-2-3.
A partir daí, torna-se simples a elaboração de uma tabela com a digitação de cada instrumento, sabendo-se que entre uma posição e outra, seguindo a ordem crescente, estará um semitom descendente em relação à outra. Recomenda-se (no papel) a disposição dos harmônicos de cada posição no sentido vertical (como intervalos harmônicos).
MÃOS À OBRA E BOM TRABALHO!
Texto elaborado especialmente aos alunos de Regência de Banda Sinfônica do 28º. Curso Internacional de Verão de Brasília - 2006