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TRIO IMAGES: a música de câmara brasileira em alta.
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As formações de câmara refletem muito bem o espírito de se fazer música com prazer. Diferentemente do trabalho exaustivo das orquestras sinfônicas, onde a cada semana, em no máximo quatro ensaios, um programa novo tem de ser apreendido, seja ele constituído de sinfonias de Haydn, Mozart e Beethoven ou aqueles um pouco mais desafiadores que trazem Mahler, Bruckner, Shostakovich ou Stravinsky (o resultado artístico (?), só conferindo), os grupos de câmara (duos, trios, quartetos e outros) normalmente resultam da soma de afinidades e competência – todos são solistas em potencial.
A preparação de um programa pode levar meses, tal é o elevado senso crítico de seus protagonistas (os eventuais deslizes não podem ser atribuídos a circunstâncias outras, tais como, más condições da sala de ensaio, questões administrativas, alteração repentina de programa, mudança de solista ou de regente, de horário ou de data). Os cameristas vivem e sobrevivem do (bom) resultado do seu trabalho – não é um contrato de risco, exige-se êxito.
O Trio Images, formado por Cecília Guida (violino), Henrique Müller (viola) e Achille Picchi (piano), é um belo exemplo dessa postura. Fundado em 1999, o grupo teve curiosamente a sua estréia fora do Brasil, resultado de um convite dos governos da Armênia e Geórgia. Seus mais de 100 concertos no Brasil e exterior, com relevante sucesso, intercambiando composições brasileiras com as dos países em que se encontraram, nos dão idéia de sua excepcional qualidade artística em sua singular formação (violino, viola e piano). Excursionou pela Argentina e Rússia e, do governo armênio, em reconhecimento ao seu trabalho de divulgação de importantes compositores daquele país, recebeu em 2002 a “Condecoração de Honra”. A revista América Latina da Academia de Ciências da Rússia, em crítica da Ph.D Natália Konstantinova, publicou: “...a magia do Trio virtuoso... gente maravilhosa fazendo música maravilhosa...”
Num período em que a nossa programação musical internacional é constituída quase que integralmente de artistas estrangeiros, há de se prestar um pouco mais de atenção aos nossos também internacionais expoentes. O Trio Images por meio de suas mais recentes aparições, nos dá mostra do seu prestígio tanto no cenário musical nacional quanto internacional. Um pequeno passeio diante da sua trajetória neste segundo semestre de 2004 revela a importância da sua produção artística: em 29 de agosto, na Série Pinacoteca dos Concertos BankBoston, apresentou um tributo ao compositor inglês J. Ireland (1879-1962), na interpretação da integral dos trios com piano (com transcrições para viola do Trio Images e Rafael Videira); em 15 de setembro, no Iguazu Clásico – Primer Mega Festival Internacional de Música Clásica, Argentina, brindou o público do Salón Adelantado Alvar Núnez com primorosas interpretações de consagradas obras de Heitor Villa-Lobos (O Trenzinho do Caipira, “Tocata” das Bachianas Brasileiras nº 2, em arranjo de Achille Picchi), Niels Gade (Trio, opus 42), César Guerra-Peixe (Trio, em homenagem aos 90 anos de nascimento do compositor), Johannes Brahms (Trio, opus 40) e Astor Piazzolla (Primavera Porteña e La muerte del Angel) – esse mesmo programa foi reprisado em 17 de setembro no ciclo “Soirée Musicale” do Sofitel Buenos Aires, culminando, já de volta a São Paulo, com o concerto oferecido em 29 de setembro, no Auditório Nobre da Associação Paulista de Medicina, como parte da série “Música em Pauta na APM”, apresentando a estréia brasileira do Trio nº 2 de Boris Liatoshinsky (1895-1968) e, mais uma vez, o Trio Opus 40 de Johannes Brahms (1833-1897).
A propósito da sua atuação em solo argentino, o Trio Images foi tema na coluna do crítico musical Juan Carlos Montero, publicada na seção Espetáculos do periódico argentino La Nación, de 20 de setembro. Assim se referiu ao Trio:

“... la violinista argentina naturalizada brasileña Cecília Guida, el violista Henrique Muller y el pianista Achille Picchi, músicos de raza que ofrecieron un programa atractivo, a partir de una joyita de Heitor Villa-Lobos, descriptiva, pintoresca y plena de efectos rítmicos contagiosos. Luego con el Trio Op. 42 de Niels Gade (1817-1890) se valoró en toda su dimensión a un conjunto que hace gala de justeza, temperamento y perfección para sortear los momentos de mayor dificultad.

Guida, que no puede negar su formación con Ljerko Spiller, su paso por el Conservatorio de Córdoba y su relación con la Camerata Bariloche, dejó escuchar un sonido voluminoso en todo el registro. Por su parte, Müller exhibió la placidez de un sonido de viola homogéneo, además de una exquisita musicalidad, en tanto que el pianista, compositor, director e investigador de la música brasileña Achille Picchi mostró, con su manera de tocar el piano, toda sua sabiduría intelectual, además de un toque perlado cautivante y un respectuoso sentido del equilibrio para ensamblarse al conjunto...”


É importante que neste transcorrer de início de um novo século, lancemos um olhar um tanto mais reflexivo sobre as transformações e tendências estéticas que o pensamento contemporâneo nos impõe, transportando-nos a uma maior capacidade de discernimento, onde a qualidade deve triunfar ante a essa crescente e frenética diversidade. É momento de encararmos o repertório de câmara como fonte de expressão artística em toda a sua plenitude, não relegando-a, como equivocadamente muitos o fazem, ao um plano meramente de prática musical intermediária durante o processo de formação de instrumentistas.

1º/11/2004

Autor Roberto Farias
em 2/11/2004

publicado no site www.movimento.com em 02/11/2004

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Conheça mais da trajetória do Trio Images acessando os sites:

http://www.blogger.com/www.prestigeagency.com ou http://www.trioimages.com.br/

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